No Dia Internacional da Mulher, um dado chama muito a atenção: 13,1% do total de procedimentos estéticos no mundo, em 2019, aconteceu no Brasil. O País é líder em cirurgias plásticas, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), organização global que congrega cirurgiões estéticos de 110 nações. Desse total, mais de 80% são mulheres.
Os padrões de beleza estão cada vez mais presentes na sociedade. Com o crescimento das redes sociais, o acesso e a busca por “padrões” têm se tornado frequente.
Na internet, os digitais influencers expõem corpos magros, esculturais, definidos, musculosos, induzindo uma forma de padronizar o significado de beleza. Em resumo, tentando fazer como que esse formato seja “perfeito”. Eles influenciam na forma de cada pessoa se ver e sentir com o seu próprio corpo.
Atualmente, as pessoas que não estão satisfeitas com si mesmas, acabam sendo prisioneiras dessa insatisfação e buscam excessivamente alternativas que prejudicam a saúde e o emocional.
A não-aceitação do próprio corpo pode provocar um sofrimento emocional, refletindo em diversos contextos na vida da pessoa. Mas isso não foi problema para a estudante de Artes Cênicas Nayla Quirino, que é muito autoconfiante em relação ao corpo e beleza.
“Desde pequena não gosto de ‘padrões’. Na verdade, gosto de justamente fugir deles. Gosto de ser exclusiva, enquanto as mulheres estão sempre tentando cobrir seus cabelos escuros para ficarem loiras e bronzeadas, com suas marquinhas de verão perfeitas. Eu, desde os 11 anos, escondo meu loiro natural com tinta preta e fujo do sol igual vampira”, disse em entrevista ao #Santaportal.
A jovem de 20 anos relata também que se sente incomodada por ver nas redes sociais, uma quantidade enorme de mulheres que maltratam seus corpos com cirurgias plásticas, cintas modeladoras apertadas, métodos de massagens que as deixam com vários hematomas, entres outros. Sendo assim, acaba eliminando a beleza natural que cada uma possui, apenas por fazerem comparações à um “padrão” inexistente.
Segundo a psicóloga Teresa Schiff, todo o problema que é ligado ao padrão de beleza, surge exatamente quando a sociedade impõe uma cobrança sobre o que vem a ser um “padrão”, o que tem que ser e como deve ser um corpo considerado bonito.
Essa imposição é conceituada à “ditatura da beleza” e está concentrada mais para as mulheres. A cobrança social é mais pesada do que para os homens, pois em um contexto sócio-histórico-cultural, a mulher é identificada pela sua vaidade e cuidados com a aparência.
“Nas redes sociais, são vendidas as receitas de beleza através de todos os procedimentos estéticos, fazendo com que a mulher alimente esses padrões irreais. Só que todas esquecem de que temos uma biologia, temos a estatura, a formação óssea, herdamos uma característica física própria. E em nome disso, em que todas as mulheres tentam negar a questão da biologia genética, passam a não se aceitarem, gerando frustrações e problemas psicológicos”, diz Teresa.
Nayla conta também que na infância era muito tímida e foi o teatro que a fez se soltar mais. Nesse meio artístico, foi um dos fatores principais para o processo de autoconfiança da estudante.
“Hoje não me importo se estou dançando bem ou mal, nem com os comentários maldosos que ouvia dos meus irmãos mais velhos. Eu apenas deixo meu corpo livre para ser guiado pela música, sem me importar se estou acertando os passos. Eu só gosto de me jogar nesse momento”.
A beleza de cada mulher reside no autoconhecimento e na força. De acordo com a psicóloga, cada uma precisa ter o entendimento de cuidar do próprio corpo, mas cuidar pensando na saúde no bem-estar, e não no sentido de estar escravizado pelo padrão imposto.
“Por conta da pandemia, as pessoas começaram a trabalhar mais com suas imagens na internet e começaram a seguir esse padrão de beleza que a sociedade impõe. E isso pode resultar em distúrbios de imagem corporal, porque a pessoa começa a enxergar a sua imagem distorcida da realidade, gerando anorexia, distúrbios alimentares, anemia e outras doenças”.
O processo de autoaceitação é demorado, pois se a pessoa já estiver passando por um tratamento psíquico por conta da obsessão para atingir tal “padrão”, complica mais ainda.
Na medida em que a pessoa procura um tratamento e vai atrás de terapias, ela quer melhorar no ponto de vista da beleza, cuidar das nossas emoções, do corpo e dar atenção à saúde de uma forma integrada.
“Costumo estimular os meus pacientes nesse sentido amplo, para quem faz tratamento e precisa tomar medicação. Ou quem quer fazer algum procedimento estético, fazer da maneira correta, não afetando a saúde. É uma forma de resgatar a autoestima e ficar mais perto de si mesmo”, diz Teresa.
A jovem relata também que as fotografias ajudaram bastante. Ano passado, após acontecerem coisas que mexeram com sua autoestima, Nayla fez uma sessão de ensaio sensual. “Apenas tirei um dia para tirar fotos, peguei o celular, coloquei no temporizador e fiquei brincando na frente da câmera, explorando todos os meus ângulos. E o resultado foi me ver com um olhar muito mais apaixonado e encantado por mim mesma”.
Após se aceitar da maneira que realmente é, Nayla sempre deixa uma dica para as mulheres que sofrem com a baixa autoestima.
“A dica é super clichê, mas os clichês só se tornam isso por serem ditos com muita frequência. Mas o que aconselho é, se olhem no espelho! Para algumas isso pode ser muito difícil, porém todo processo tem suas dificuldades. Começar aos poucos é o essencial para irem se acostumando com suas próprias imagens”.
Fonte: Santa Portal