Uma moradora de Praia Grande, na Baixada Santista, transformou a bicicleta em uma barbearia móvel para atender pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social. Ana Beatriz Silva Matos, de 30 anos, contou que a pretende expandir o projeto ‘bike barber’ para garantir que todos tenham acesso aos serviços de corte de cabelo, já que chegou a sofrer bullying na infância por não ter dinheiro para ir ao cabeleireiro.
“Quando eu era criança, muitas das vezes, eu não tinha dinheiro para cortar cabelo, então eu sofria bullying até pelas tias da escola. E aí eu ficava com isso na minha cabeça: eu tenho que fazer alguma coisa. Não é culpa da criança, não é culpa da mãe. Simplesmente não tem condição e o que a gente pode fazer com isso? A gente tem que praticar o bullying? Não, a gente tem que achar uma solução”, disse Ana.
Beatriz resolveu para investir em cursos de barbearia e biossegurança. Além da situação da infância, uma das inspirações veio a partir de conversas e trocas de ouvir experiências do irmão, que é deficiente intelectual, e de um casal de amigos gays ao irem em barbearias.
“Meu irmão não era atendido corretamente nas barbearias. Por que ele sempre passava por constrangimento?”, disse Ana Beatriz, explicando que muitas pessoas aceitavam cortar o cabelo dele, mas desistiam em seguida. Além disso, um casal de amigos gays relatou ter sofrido homofobia em uma barbearia.
Desta forma, ela uniu a vontade de se especializar na área com uma ideia com a quantidade de pessoas que observava em situação de rua em Praia Grande. “Via muito os moradores de rua que precisavam cortar o cabelo e eu ficava com uma tristeza profunda pensando: eu posso ajudar. Foi aí que veio a ideia”, explicou.
Como Ana já tinha uma bicicleta adaptada para carregar micro-ondas, pois trabalhava como eletrotécnica, ela percebeu que poderia usar o veículo para barbearia. Por isso, resolveu seguir a vontade que tinha desde os 19 anos e iniciou os estudos na The Barber Academy.
Segundo Ana, ela começou com o projeto da bicicleta passando por diversos bairros da cidade, até que resolveu criar um ‘ponto fixo’ próximo ao restaurante Bom Prato, onde há grande concentração de população em situação de rua. No entanto, como não possui fonte de renda, ela pretende conseguir patrocínios para manter a ‘bike barber’.
A bike barber de Ana foi feita de maneira simples, com apenas R$ 150. “Ela é um cesto de frutas, de hortifrutis, que eu peguei no ferro velho. Tem umas barras de apoio que seguram e sustentam na garupa essa cesta. Na frente, é uma lixeira soldada”, ressaltou.
No entanto, foi na simplicidade que ela viu vidas serem transformadas. Como além de cortar cabelo, Ana conversa com os clientes como se fossem amigos, ela presenciou cenas emocionantes.
Fonte: G1 Santos