Um idoso morreu ao 75 anos após aguardar nove dias por uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Cardiológica em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Segundo relato de familiares, Rubens Calero Banhos precisava colocar um marca-passo com urgência, mas não resistiu por conta da demora na liberação da vaga.
O idoso estava internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Quietude desde o dia 13 de outubro, após ter parada cardíaca. No dia em que foi levado até o hospital, socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fizeram massagem cardíaca até a chegada ao pronto-socorro. No local, a equipe médica utilizou um desfibrilador cardíaco para trazê-lo de volta.
Segundo o agente de endemias Sérgio Calero, de 50 anos, filho de Banhos, o pai chegou a ficar entubado e sedado no início da internação, devido a gravidade no estado de saúde, mas depois apresentou pequena melhora. Mas, por tratar-se de um caso delicado, Banhos ainda necessitava colocar o marca-passo.
“A partir dessa melhora, já estávamos aguardando UTI, mas foi demorando tanto que ele voltou a ficar em estado grave. O que ocorreu com meu pai foi muito triste. O descaso realmente vem dessa fila do CROSS que ocorre no Estado. É um sistema em que uma pessoa morre a espera de uma vaga. É uma vergonha. Tiraram a chance dele de viver. Vaga de UTI é imediato, significa urgência, não é para esperar tantos dias”, diz.
A família afirma que ele teve um ótimo atendimento por parte dos profissionais de saúde na UPA, mas o local não tinha a UTI Cardíaca que o aposentado precisava com urgência.
Em nota, a Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande, afirmou que o paciente aguardava uma vaga de UTI cardiológica, vaga essa regulada no Sistema CROSS, que é gerido pelo Estado de São Paulo. Durante o período em que esteve no PS Quietude, a Sesap relata que todos os protocolos de atendimento foram seguidos para manutenção de sua vida, porém, infelizmente, ele não resistiu.
Já a Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde (CROSS) informa que tão logo recebeu a solicitação da vaga, iniciou a busca para o caso do idoso. O caso foi regulado como vaga zero para o Hospital Irmã Dulce, na última segunda-feira, 20. Esclarece também que apenas a disponibilidade de vagas não é suficiente para que um paciente seja transferido. É necessário que ele apresente condições clínicas adequadas para segurança da própria pessoa.
Porém, segundo familiares, os filhos entraram ação no Ministério Público, motivo pelo qual foi determinado que cumprissem a ordem de conceder uma vaga. Mas, a família afirma que a CROSS disponibilizou uma vaga na enfermagem do Hospital Irmã Dulce na noite do dia 20, e não de UTI. Com isso, os médicos e enfermeiros responsáveis do PS Quietude, não teriam aceitado a transferência, afirmando que a vaga que disponibilizaram não atendia as necessidades do idoso e iriam continuar insistindo em vaga para um hospital de referência cardiológica.
Mas, após completar nove dias internado e ainda aguardando a vaga, Banhos não resistiu e morreu na madrugada do dia 22 de outubro.
“Eu quero que outras pessoas não morram a espera de UTI, porque a gente paga imposto. Meu pai trabalha desde bem jovem e contribui com a previdência há muitos anos, e morreu porque não teve o básico, atendimento. Meu pai lutou pela vida, chegou a ter uma melhora e ser desentubado na UTI, mas a vaga que era tão necessária não saiu e infelizmente, ele se foi. É muito revoltante. Se é criado um sistema de vagas e ele não funciona, quem criou e administra é responsável. Agora quem chora é a família”, desabafa o filho.
TEXTO: G1/Santos