A ligação seca entre Santos e Guarujá, no litoral paulista, será mesmo o túnel e, segundo especialistas nunca esteve tão próxima de ser viabilizada. A obra tem similares em vários países e, além de garantir a continuidade da expansão do Porto de Santos, atende deslocamentos dos moradores da região. Os acessos serão junto aos centros urbanos das duas cidades, diferente da opção descartada: a ponte.
Estas e outras vantagens do túnel foram defendidas por especialistas e pela deputada federal Rosana Valle (PSB), em videoconferência realizada pela Portogente na segunda-feira, 26/4. A deputada afirmou que o estudo do BNDES sobre o modelo de desestatização do Porto fica pronto no primeiro semestre deste ano.
“E está mantido o compromisso do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, de incluir a obra do túnel na concessão da gestão do Porto. Levei o assunto pessoalmente até o presidente da República e continuo firme nesta luta”, disse a parlamentar.
Assim, o investidor privado que ganhar a concessão para a gestão do Porto de Santos terá a obrigação de fazer o túnel, cujo custo, estimado em R$ 3 bilhões, segundo o executivo Ricardo Machado, da Boskalis/Brasil, é o mesmo da ponte, cuja implantação traria enormes impactos nas cidades, sobretudo em Santos, além de necessitar de muitas desapropriações.
O diretor de Negócios da Santos Port Authority – SPA, Bruno Stupello, lembrou que continua aberto o chamamento para empresas entregarem estudos sobre o túnel, que incluem todos os aspectos, desde financiamento à modelagem jurídica. E que o leilão da desestatização da gestão do Porto vai ocorrer em 2022, sem interferências da agenda política do País.
O engenheiro Casemiro Tércio, consultor privado e ex-presidente da SPA, lembrou que a ligação seca não andou nestes anos porque era uma obra que dependia 100% de recursos públicos: “Não foi aprovado o aumento da capacidade de endividamento do Governo do Estado de São Paulo, o que impediu que o poder público contraísse empréstimos para financiar a obra”, lembrou Tércio.
O especialista vê na contraprestação de serviços uma garantia de retorno para o investidor, dando como exemplo a demanda reprimida nos serviços de balsas. “Se há a garantia, pelo túnel, de uma travessia rápida e imediata, sem filas, o volume aumenta significativamente”, afirmou o ex-presidente da SPA, que vê o momento muito próximo para “tirar o túnel do papel”. Tércio deu exemplos de sucesso de concessões nestes moldes nos rodoaneis de Barcelona (Espanha) e Santiago (Chile).
Ricardo Machado disse que já foram construídos muitos túneis na Suécia, Alemanha, México, mais longos que os 900 metros entre Santos e Guarujá. “Está em obra um túnel de 18 km ligando a Alemanha à Dinamarca. Esta técnica é segura e vem sendo empregue há dez anos. O que precisamos garantir é a segurança jurídica e financeira para que a obra seja feita pelo setor privado rapidamente, sem riscos”.
O arquiteto e professor da UniSantos, José Marques Carriço, alertou para o risco dos impactos da ligação interferirem numa área, entre as avenidas Bernardino de Campos e Conselheiro Nébias, em Santos, onde estão localizados 40% dos empregos na Baixada Santista, segundo a última pesquisa Origem/Destino. Carriço lamentou a falta de novos estudos de planejamento regional e lembrou que os impactos da Rodovia dos Imigrantes, por exemplo, causaram problemas por décadas em São Vicente.
A deputada Rosana Valle lembrou que a Ponte Pênsil, inaugurada em 1914, como parte do projeto de saneamento de Saturnino de Brito, acabou congelando o desenvolvimento de São Vicente por inviabilizar a navegação no estuário vicentino por embarcações de médio e grande porte.
“Embora ainda aberta e tendo cumprido importante papel, a bonita Ponte Pênsil, por ser muito baixa, tirou de São Vicente uma importante opção de desenvolvimento econômico e social, penalizando até hoje sua população, além de decretar um processo caótico de ocupação do estuário vicentino”, alertou.
Por isso, a deputada defendeu estudos de impacto, mais praticidade nas ações, e lembrou que a opção do túnel é a melhor por não bloquear o Porto de Santos, o maior do País e estratégico para o futuro do Brasil. “Não dá para esperarmos mais 100 anos para vencer este desafio”. A videoconferência teve a condução do engenheiro, mestre e consultor Carlos Magano e a participação do ex-vereador e portuário José Antônio Marques Almeida, o Jama.
Fonte: Costa Norte