Para Elisabeth Dotti, a falta de cuidado da população com os protocolos sanitários e distanciamento social colaboraram para que o governador João Doria tivesse que tomar medidas ainda mais restritivas em território paulista.
“Chegamos a absurda, infeliz e tristíssima marca de 100 brasileiros morrendo por hora, somos responsáveis por 10% das mortes por Covid-19 no mundo. Isso é fruto de uma política de Saúde desorganizada, da falta de vacina e, principalmente, se a gente tivesse uma população esclarecida, mantendo distanciamento, saindo para as coisas estritamente necessárias e colaborando seguindo os protocolos sanitários, não estaríamos na situação que a gente está. Não estaríamos com os comércios fechados e as pessoas morrendo, além da falta de leitos para as pessoas que estão com a doença. Não teríamos essa pandemia econômica e pandemia de Saúde”, disse Elisabeth.
Outro infectologista, o médico Marcos Caseiro, destacou que as medidas mais duras se fazem necessárias para tentar conter a curva de contágio do novo coronavírus e falou que espera um mês de março com muitas mortes pela doença.
“A minha expectativa para esses próximos dias, infelizmente, é a pior possível. Acho que teremos os piores dias da história do nosso país, em termos de saúde pública. Ontem tivemos quase 2.400 mortes, isso é um dado absurdamente grave. No entanto, o que é mais grave é a total desconsideração da informação pela população. Já atingimos a marca de 100 brasileiros morrendo por hora. Isso é gravíssimo, teremos um março tenebroso. Tivemos um aumento na nossa região nos próximos dias e a situação ainda vai piorar. As nossas UTIs já estão no limite e isso vai piorar de maneira importantíssima, vocês vão ver isso nos próximos dias”, afirmou Caseiro.
Para os dois especialistas, existem apenas duas maneiras de combater a pandemia, nesse momento, no Brasil: isolamento social e vacinação em massa.
“A imunidade coletiva funcionaria desde que chegássemos a 70% da população vacinada, não chegamos ainda a 10 milhões de vacinados. Estamos muito longe dessa imunidade coletiva, que só deve chegar quando tivermos cerca de 70% da população vacinada. Não tem falha de vacinação, nós sabemos fazer vacinação muito bem, somos um dos maiores países do mundo em capacidade de vacinação. O que acontece é que nós ‘comemos bola’ lá atrás. Nós não temos vacina. Falhamos na hora de comprar as vacinas, quando deveríamos ter comprado. Aliado a isso, os dados mostram uma situação caótica, as pessoas pensavam que (a pandemia) tinha passado, que o problema tinha sido resolvido. Temos um enorme contingente populacional que não se infectou e agora essas pessoas estão sendo acometidas pela doença, ela pode reinfectar pessoas que já tinham tido Covid pela cepa anterior”, destacou Marcos Caseiro.
Elisabeth Dotti também defendeu a necessidade de uma vacinação rápida para desaceleração do vírus. “Estamos caminhando a passos largos para um colapso total do sistema de Saúde, alguns estados estão entrando em fases complicadíssimas, ficando sem leitos de UTI e internações em enfermaria. O governo está indo atrás de hospital de campanha. Agora é o pior cenário que já vivemos da pandemia. A vacinação é sempre muito boa, bem-vinda, mas vacinamos só 4% da população. Essa deveria ser a medida mais importante, mas temos uma quantidade muito baixa de pessoas vacinadas, isso é muito pouco para brecar o impacto que essas novas cepas impões na velocidade de transmissão do novo coronavírus”, comentou.
Brasil é epicentro da pandemia
Exatamente um ano após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a existência da pandemia do novo coronavírus, o Brasil atualmente apresenta os piores números diários da Covid-19.
O país contabiliza uma média de 70 mil novos casos da doença por dia.
Superando até mesmo os Estados Unidos, o Brasil registra uma média móvel semanal de 1.626 mortes, de acordo com informações do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Na quarta (10), o país apresentou a impressionante marca de 2.349 óbitos por Covid em 24 horas.
“Hoje praticamente 30, 40% de todos os casos do mundo estão aqui no Brasil. Somos o epicentro da pandemia, vergonhosamente. Certamente a nossa incapacidade de ter feito o isolamento social adequado, associada a circulação dessas cepas novas, foi o cenário ideal para esse aumento de casos. Foi o que aconteceu em Manaus, quando tínhamos dados de imunidade de rebanho de 70% e veja o que aconteceu. Veja o que aconteceu quando essas cepas chegaram em Araraquara, Jaú, Bauru, é uma confluência de fatores, uma parada total dos cuidados de isolamento respiratório, associada a circulação dessas cepas. Essas são as explicações para o que estamos vivendo atualmente”, analisou Caseiro.
Para Elisabeth, não adianta apenas culpar os políticos, chegou a hora de a população fazer a sua parte para evitar que os números fiquem ainda piores. “Sempre importante a gente colocar que no ano passado todos pedimos use máscara, mantenha o distanciamento, não judie da população que quer trabalhar. Além do ponto de vista da saúde, você está prejudicando o comerciante que está precisando trabalhar. A gente entra numa fase emergencial por causa do cara que quer fazer festa, bagunça e diz que isso não é nada, que pode aglomerar, passear, e está todo mundo penando por causa disso. Tivemos Natal, Ano Novo, carnaval, eleições, várias situações que não foram bem desenvolvidas e hoje estamos colhendo esse triste resultado. Por isso, acho importante que se coloque as posições de todos os envolvidos. Não é só a política, é o ser humano, o cidadão, o cara que negligenciou todas as orientações sanitárias e hoje estamos colhendo os frutos do descaso da população com essa doença. Está cheio de baile clandestino por aí, festa na lancha, quer dizer, não é um problema de classe social, é um problema de consciência das pessoas. A gente tem um pensamento muito triste e empobrecido de quem não entendeu que essa doença mata e, ainda por cima, não permite a gente fazer velório e enterrar dignamente os nossos mortos”, concluiu a médica infectologista.
Fonte: Santa Portal