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‘Caixa 2 sempre foi a alma do sistema eleitoral brasileiro’, diz João Santana

Marqueteiro, que fez delação na Lava-Jato, defendeu honestidade de Lula e Dilma

O marqueteiro João Santana afirmou nesta segunda-feira, em sua primeira entrevista após fechar acordo de delação premiada na Lava-Jato, que o caixa dois sempre fez parte da “alma do sistema político brasileiro”. Ao participar do programa “Roda Viva”, Santana também defendeu a honestidade dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, apesar de os ter acusado nos depoimentos que prestou.

— O caixa dois é uma coisa que domina. O caixa dois foi sempre a alma do sistema eleitoral brasileiro. E era uma coisa geral. E poucos foram punidos — disse o ex-marqueteiro do PT.

Santana também afirmou durante a entrevista que o caixa dois atinge “99,9% dos marqueteiros e dos políticos do país”.

Condenado na Lava-Jato, ele ainda cumpre pena em regime aberto pelo crime de lavagem de dinheiro e usa tornozeleira eletrônica. O marqueteiro exibiu no programa um visual diferente dos tempos em que fazia campanha para candidatos do PT, com cabelo comprido, barba e brinco.

Ao ser questionado sobre se ele, nas propagandas políticas que ajudou a fazer com a imagem de que Lula e Dilma eram honestos, não teria incorrido numa falha moral, respondeu:

— Não via desonestidade no sentido do uso pessoal. Era um uso de fundo eleitoral. É uma discussão complicadíssima. Mas em nenhum momento eu falei de Lula e Dilma como pessoas que fossem desonestas.

O marqueteiro rebateu as acusações da ex-presidenciável Marina Silva de que foi vítima de fake news em 2014 por parte da campanha petista.

 — Era uma peça de exagero retórico — afirmou Santana, rebatendo comparações com as práticas adotadas na campanha de 2018 de ataques nas redes sociais contra adversários do presidente Jair Bolsonaro.

Em propaganda daquela campanha de 2014, a proposta de Marina de formalizar a autonomia do Banco Central era transformada em retirada de comida da mesa dos trabalhadores.

Santana ainda fez um “mea culpa” do comercial da campanha para a prefeitura de São Paulo em 2008 em que questionava se o então adversário de sua candidata Marta Suplicy, o então prefeito Gilberto Kassab, era casado e tinha filhos.

 — Esse comercial é o maior erro técnico da minha vida — afirmou.

O marqueteiro também acusou Lula, às vésperas da eleição de 2014, de ter desestabilizado o governo Dilma. Santana afirma que era íntimo dos dois ex-presidentes.

 — Uma das coisas que ajudaram na desestabilização da Dilma foi o Lula.

Lula vice

De acordo com Santana, Lula não era claro, mas insinuava que gostaria de disputar a eleição de 2014 e falava mal das medidas da então presidente.

O marqueteiro avalia  que Lula não poderia mais ser candidato a presidente da República.

 — O Lula é um personagem que não perde nem ganha. Se perder, afunda mais a ele e o PT. Se ganhar, aprofunda essa polarização e não conseguiria governar. Lula seria o melhor perfil para vice.

Santana acredita que uma chapa com Ciro Gomes como candidato e Lula como vice seria imbatível, embora considere inviável que isso se concretize.

No final da entrevista, ao ser indagado se havia mentido quando negou, antes de ser pego pela Lava-Jato, as acusações de que recebia por meio de caixa dois, Santana desconversou, mas no meio da resposta afirmou:

 — Todo mundo mente. A mentira é um privilégio, é quase um prazer humano.